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Pastor, leia Jeremias 1.4-10
É ‘ensurdecedor o silêncio da Igreja’
diante do pecado que corrói a moral dessa nação. Eis uma constatação difícil de
fazer, uma verdade complicada de se admitir, mas a grande verdade é que com o
passar dos anos, a Igreja tem permanecido muda e perdido uma característica
inerentemente sua: a voz profética. A Igreja de Cristo
tem deixado de ser a voz da contestação, do incômodo com o pecado e em muitos
casos, têm se tornado uma espécie de clube de entretenimento, ou pior que isso,
uma vassala de governantes, muda, pacata e inerte.
Ao longo da história, O Senhor Deus
levantou profetas para serem a voz da justiça e da verdade em um mundo o
dominado pela injustiça, mentira e corrupção, próprias de uma humanidade caída
e distante d’Ele. Olhe para as trajetórias de Oséias, Daniel, Jeremias, Isaías,
Elias, Eliseu, João Batista e outros. Perceba a coragem, o compromisso com a
verdade de Deus, a despeito dos resultados humanos.
Os profetas do Antigo Testamento nem de
perto podem ser identificados com os pseudoprofetas que se levantam nos
movimentos pentecostais e neopentecostais em nosso tempo. Aliás, nos dias
atuais, vemos púlpitos repletos de adivinhadores que nada adivinham, de
‘entretedores’ de bodes que se passam por ovelhas, animadores de auditórios
ávidos por palavras que alimentem e inflem seus egos doentios. Isso
é bem distante do que é ser voz profética nos moldes da Escritura. É lamentável
admitir, mas alguns púlpitos ‘reformados’ também vivenciam esse
câncer.
Os profetas do AT eram homens guiados
pelo Santo Espírito, dotados de coragem, ousadia e verdade. Eles eram Boca de
Deus, confrontavam corajosa e ousadamente o pecado do povo, dos líderes
políticos e religiosos. Não eram adivinhadores, profetas de coisas fúteis e ou
anunciadores de sonhos ‘a gosto do freguês’. Aqueles homens proferiam a
acusação e anunciavam a justa sentença de Deus sobre homens ímpios, mesmo que
isso lhes custasse a liberdade, os prazeres e a própria vida.
A Igreja de Cristo historicamente herdou essa característica e se colocou do lado da verdade e justiça, não abrindo mão de ser boca de Deus, mesmo que isso custasse a vida de muitos crentes em Jesus. E quantas vidas isso custou. Quanto sangue foi derramado porque a Igreja foi aquilo que deve ser por natureza!
Por diversas vezes, essa voz profética
foi sendo tolhida, emudecida, de modo a não mais confrontar. Como resultado a
Igreja deixou de ser relevante, tornou-se insípida e incapaz de
transformar. Mas Deus não permitiu que essa voz fosse de todo ou por
todo tempo, silenciada. Os movimentos pré-reformadores, a Reforma Protestante,
os puritanos e tantos outros, foram gritos para que a Igreja retomasse seu rumo
e agisse de modo coerente com a verdade. Mesmo que isso lhes custasse muito
mais do que humanamente poderiam suportar.
Nos tempos atuais a Igreja parece amordaçada pelo seu próprio comodismo. O conforto, a tranquilidade e a aparente bonança têm sido uma espécie de sonífero para quem talvez apenas espere pelo ‘dia da matança’. A Igreja está muda! A voz não é ouvida. O pecado não é denunciado. Políticos corruptos se refestelam com dinheiro público em tempo de crise; pessoas morrem nas filas e nos corredores de hospitais lotados, porque o dinheiro foi solapado, e nós pastores permanecemos mudos, inertes, incapazes de chamar de pecado o que de fato é. Não temos defendido a justiça, não temos nos colocado ao lado da verdade e sido prenunciadores do justo e iminente juízo de Deus sobre todos aqueles que cometem a injustiça. Sim, isto é uma confissão sincera. Temos permanecido mudos!
É momento de ecoar a voz da verdade em
nossos lábios, denunciando tudo aquilo que desagrada ao Senhor Deus. Precisamos
abrir a boca e pregar contra a corrupção e os corruptos, contra a injustiça, a
mentira, a falsa fé que solapa diariamente milhares de pessoas, conduzindo-as a
acreditar em mentiras de falsos pastores que apenas lhe roubam os bens, a paz e
a fé.
É nosso dever denunciar o pecado de
todo homem, inclusive dos que governam. Sejam eles de direta, de centro, de
esquerda. Não importa o lado, a corrente, a ideologia. A corrupção e a
injustiça devem ser denunciadas com intrepidez e amor à verdade.
Talvez isso nos custe o sossego, a
segurança, a alegria. Talvez, ser voz profética em um tempo do politicamente
correto, nos leve aos tribunais, aos presídios e até a morte, mas já disse
Pedro, o apóstolo que é mais importante obedecer a Deus que aos
homens (Atos 5.29).
Nosso tempo carece urgentemente de
pastores que amem a mensagem do Evangelho, que a anunciem com intrepidez,
ousadia e temor do Senhor, confiando exclusivamente n’Ele, dependendo apenas de
Sua graça e amando a Sua vinda mais que qualquer outra coisa.
Que possamos dizer como Lutero:
Se temos de perder
Família, bens, prazer!
Se tudo se acabar
E a morte enfim chegar,
Com ele reinaremos!
Que Deus nos bendiga e nos faça cumprir o nosso chamado.
Um grande abraço,
Rev. Ricardo Jorge Pereira
Pastor presbiteriano
Instagram: @pr.rjp
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