Igreja não é comitê. Púlpito não é palanque. Culto não é comício


Em tempos de extremismos, partidarismo e politicalização da fé, é preciso lembrar que a Igreja de Cristo não é (ao menos não deve ser) um ‘curral’ sob o comando de um cabo eleitoral que na base do ‘aboio’ diz para onde o povo deve ir ou não.

A Igreja de Cristo não pode e não deve ser governada sob a égide da esquerda e seus pensamentos marxistas ou da direita ou ainda de qualquer outra visão político-econômica humana, falha, limitada e cheia da podridão do pecado presente na vida de cada um de nós. 

O reino da Igreja não é deste mundo (século mal), não está condicionado às incertezas de agora. Embora sejamos cidadãos neste mundo caído, não somos deste reino. O nosso Reino é outro, nossa pátria é a Jerusalém celestial. Isso deve fazer com que nossa vida nesta presente era seja pautada pelas convicções da pátria celestial, nos preceitos estabelecidos pelo Grande Rei.

Antes que você me pergunte, permita-me esclarecer: não falo e não defendo uma espécie de abstração filosófica ou cultural. De modo algum, defendo qualquer tipo de separatismo gospel ou uma espécie de sociedade alternativa cristã. Ao contrário, penso que devemos, como cidadãos dos céus, empreender todos os esforços para viver aqui, de modo digno do nosso Grande Rei. Com isso, afirmo que o cristão deve influenciar efetivamente a cultura, a arte, a ciência, todas as áreas da vida, consequentemente, a política. Essa influência é necessária e certamente também é transformadora. Os cristãos como ‘sal da terra’, precisam não somente ‘dar sabor’, mas também amenizar e até evitar a putrefação moral de uma sociedade que padece ao ponto que de Cristo carece.  

Porém é inadmissível que pastores e líderes sigam ‘loteando’ o rebanho como se fossem sua propriedade, negociando voto e apoio para esta ou aquela corrente, este ou aquele cacique/coronel da velha ou da ‘nova’ política. Cristo morreu pela Igreja. Ela é dele. Não temos o direito de fazer outra coisa, senão pastoreá-la, convictos de quem somos apenas servos inúteis.

Pastores são cidadãos livres e podem ter lados, ideologias e visões políticas. Suas escolhas, obviamente, precisam caber dentro dos preceitos da Escritura. Não é admissível, por exemplo, que um guia do Rebanho de Cristo e apoie pautas abortistas, libertinas, de defesa de posturas e práticas contrárias a Palavra de Deus (é difícil entender qualquer cristão apoiando isto, especialmente aqueles que um dia, sob juramento prometeram serem fiéis despenseiros do Senhor). Porém essa liberdade não é uma ‘carta branca’ para conduzir o rebanho politicamente ou pior, ‘politicalizadamente. Igreja não é comitê eleitoral. Púlpito não é palanque. Culto não é comício.

A Igreja não pode ser dividida entre ‘torcidas’ políticas. Púlpito não é palanque. Porta de igreja não é comitê eleitoral e não é concebível que a noiva de Cristo seja tratada como uma ‘qualquer’. Não é tolerável que pastores negociem posturas e princípios bíblicos e que condicionem suas falas, pronunciamentos e decisões, com base nas vantagens advindas de acordos e até conchavos que apenas envergonham o Evangelho de Cristo e o Cristo do Evangelho.

Por fim, Estado e Igreja não são e não devem ser inimigos, mas a Igreja em tempo algum deverá ser vassala do Estado, de quem o governa ou pretende governar. Historicamente, todas as vezes que essa relação perdeu o distanciamento necessário, tornando-se próxima demais ou distante em demasia, houve dano, dor e vergonha para o Evangelho. Sempre que isso aconteceu a Igreja deixou de ser voz profética e tornou-se aquiescente e muda diante do pecado ou inerte, inoperante e muda. Ela tornou-se incapaz.

Que o Grande Rei que governa absoluto nos submeta a Ele em tudo e em todo tempo!

 

 

Rev. Ricardo Jorge Pereira
Pastor Presbiteriano

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