Vivo no ambiente eclesiástico. Sou cristão protestante,
pastor e vim aqui hoje dizer que NÃO ACREDITO NESSA
IGREJA! Isso mesmo que você está lendo. Estou registrando em palavras
aquilo que gostaria de bradar em alto e bom som: NÃO
ACREDITO NESSA IGREJA!
Louco! Esse cara é
louco! Como ele pode ser pastor e dizer que não acredita na Igreja?
Bem, deixe-me ponderar um pouco. Dê-me alguns
minutos do seu tempo para que justifique a minha “incredulidade” e talvez lhe
convença a também não crer. Vamos lá?
Aprendi com um grande mestre no Seminário a
ver o Sermão do Monte (Mateus 5-7) como uma espécie de código de ética do Reino
de Deus. Em cada palavra proferida o Rei do Reino convoca seus discípulos a uma
filosofia de vida inteiramente contrastante com o sistema religioso farisaico
daquela época. A justiça esperada dos súditos desse Rei deveria exceder em
muito aquela vivida pelos religiosos de plantão. No cristianismo de Cristo, o
reino anunciado, a conduta esperada era completamente diferente daquilo que se
vivia.
Jesus evidenciou isso durante seu ministério terreno. Os diversos milagres, discursos, posturas, enfim, tudo que Ele
fez apontou para uma mentalidade diferente daquela deflagrada pelos fariseus. O
Reino nos moldes de Cristo não era apenas para os Judeus, mas para todos quantos
cressem em seu nome. A “igreja” segundo Jesus não era um mero padrão ritualístico.
Ao contrário, ela nunca esteve presa a outra coisa que não fosse a Escritura
(Antigo Testamento) e é explicada no Sermão do Monte, evidenciada e anunciada
por Jesus em todos os momentos que viveu na Terra.
Cristo diversas vezes deixou claro para os
religiosos da época que as escolhas deles eram completamente reprovadas pelo
PADRÃO DO REINO. Os “pastores” fingiram querer apedrejar uma adúltera (João
8.1-11), mas foram humilhados pela informação de que
eram tão merecedores do juízo quanto ela. O Mestre também
ensinou a uma samaritana que a adoração que Deus espera transcende lugares e
não é oferecida conforme a “dignidade” do adorador (João 4). Noutro momento
deixou claro que o Reino daquele que tem poder sobre a vida e a morte é um cheio
de compaixão (Lucas 7.11-14). Ainda evidenciou que seus súditos deveriam se
reconhecer como necessitados d’Ele (Lucas 8.9-14) e que na “Igreja” cabem as piores
pessoas (Lucas 19.1-10). Ah! Ainda
ensinou que o perdão é fundamental nessa filosofia (Mateus 6.12).
E o que isso tem com o fato de eu não acreditar nessa igreja? TUDO! Pare e pense um
pouco. Na igreja dita cristã dos nossos dias quem é mais importante, o rito ou
o Deus do rito? Seja bem sincero consigo mesmo. Reflita e perceba que o homem,
o público têm sido adorados. “Cultos” ao ego, desvalorização da Escritura,
promessas vazias, mentiras agradáveis, falsa paz e tudo mais permeiam a fé
cristã. As pessoas escolhem suas “igrejas” como se opta por um prato em um
restaurante.
O pior é que algumas parecem “bodegas de quinta categoria”.
A compaixão parece não existir na
filosofia do cristianismo atual. Pessoas são execradas quando pecam. Nalguns momentos tenho a impressão de que só não apedrejamos
por medo da justiça dos homens. A
misericórdia, o amor, o perdão, o cuidado com o mais necessitados tem sido
deixados de lado. O que impera é um festival de proibições e permissões,
promessas, profetadas, revelamentos, sais, óleos, rosas, política, acordos,
enfim, tudo que dominava o cenário religioso dos tempos de Cristo domina em
nossos dias. Isso é a mesma religiosidade que
historicamente levou Jesus à Cruz. Claro que entendo que Cristo deu-se na cruz
em lugar daqueles que se prostram aos seus pés, mas historicamente A RELIGIÃO CRUCIFICOU CRISTO.
Por isso EU NÃO ACREDITO NESSA IGREJA sem piedade, sem graça, sem amor, sem temor, sem
Bíblia. Não acredito em uma filosofia que se diz cristã, mas não ama, não
perdoa, não ajuda a crescer por entender que mudar de vida é um processo lento
e muitas vezes doloroso.
EU NÃO ACREDITO NESSA IGREJA que expulsa os que não aceitam suas proibições, suas
normas absurdas, feitas para atender o capricho de homens que nada mais são do
que, santarrões hipócritas, cheios de engano e de engodo teológico.
EU NÃO ACREDITO NESSA IGREJA que não cuida dos necessitados e ainda prega o amor.
Ela nunca leu os profetas. Jamais se debruçou para ser moldada pelas palavras
de Tiago irmão do Senhor (Carta de Tiago) e por isso nunca soube o que é
cristianismo prático.
Mas ESSA IGREJA
na qual não acredito NÃO É A IGREJA DO SUPREMO PASTOR! Isso mesmo! Ela
é um conglomerado de denominações, teologias, doutrinas, costumes, filosofias.
Mas NÃO É A IGREJA! Muitos dos que nela estão, são parte
da IGREJA, DA NOIVA DO CORDEIRO. E por isso sofrem, gemem, gritam, mas
são cheios da prazerosa esperança de que um dia poderão está com o SEU REI. E esses muitos
conseguem em meio a NÃO IGREJA, SER IGREJA.
A Igreja de Cristo NÃO É UMA INSTITUIÇÃO! Ela é uma noiva que ainda não está pronta. Ainda
está com o rosto cheio de rugas, suas roupas ainda não são dignas para se
apresentar diante do Noivo. Por isso, apesar de ODIAR essa que coisa estereotipada
que se diz, mas não é a IGREJA, sou tomado por um imenso amor que me move em
direção a IGREJA QUE ESTÁ NA NÃO IGREJA.
Tenho plena certeza de que a religiosidade,
a santarrice, a hipocrisia que dominam não serão capazes de impedir que A
IGREJA cumpra sua missão adoradora. Por isso, apesar de NÃO ACREDITAR NESSA
IGREJA. Tenho total paz e convicção absoluta de que o SENHOR JESUS conduzirá a
SUA NOIVA!
Amo a Cristo e sua Palavra. Debruço-me e
deleito-me diante das verdades da Escritura. Sou um pecador miserável que tento
diariamente moldar-me pela Voz de Deus. Acredito em cada promessa, anseio por cada
tesouro. Pela Bíblia sou levado todo dia a me ver como mais um merecedor do
inferno que graciosamente foi solapado da morte eterna para os braços
acolhedores do Amor. E por ser assim, não me julgo melhor que ninguém, ninguém
mesmo! Sei que muitos outros pecadores
como eu também tem esse mesmo amor, deleite, convicção e esperança. Se você é
um deles, acreditamos nas mesmas coisas, confessamos oque somos e nos rendemos
a quem ELE É. Se assim for, somos parte da IGREJA e com ELE estaremos
eternamente.
Que
o Pastor nos pastoreie!
Caco Pereira
Acreditando apesar de não...
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