Há muitos dias não
escrevo minhas “cartas”. Hoje voltarei a fazer isso. Escreverei a um ex-aluno
(ex-aluno na “vera”, como dizemos lá em
Patos) que receberá o nome fictício de Mark. Então vamos lá.
Olá
meu mano Mark?!
Na
paz?
Cara, espero que vocês estejam bem por aí.
Aqui estamos na paz e com a paz.
Sabe mano, as vezes fico meio saudoso das
nossas aulas no Seminário, quando discutíamos sobre que tipo de igrejas temos
plantado, acerca realidade do evangelho na Paraíba e no Brasil. E é inevitável
pensar naqueles momentos maravilhosos e não lembrar que em meio as polêmicas,
discussões, embates, brincadeiras, sorrisos sempre ficava nítida uma realidade
nua, crua e dolorosa: AS ESCOLAS DE
TEOLOGIA A CADA DIA MAIS TEM FORMADO ZUMBIS.
Mark, era triste ver pessoas inteligentes,
que amam ao Senhor, que desejam servi-lo com inteireza e integridade de ser,
sendo levadas de forma tão asquerosa por um caminho que apenas as conduz a uma
religiosidade sem vida. Rapazes e moças que tem tudo para alavancar a Igreja com uma teologia bíblica fiel e
avassaladora são transformados em meros denominacionalistas, tragados pelo
sistema opressor de igrejas que apenas querem “Gado” e que os transformam em
“boieiros”.
Refletir? Nunca! Obedecer? Sempre.
Esse é o lema. A ideia central é que a igreja não precisa de homens e mulheres
comprometidos com uma reflexão séria, sadia e sincera da teologia. O importante
é preservar o nome da “denominação”. Dessa forma não são formados pastores e
missionários, mas zumbis denominacionais
que parecem repetir insistentemente que é importante tornar sua igreja
(denominação) conhecida, alargar as tendas (da sua denominação) e impactar a
nação com o poder do evangelho. Mas que
evangelho?
Fico pensando se era essa a ideia de
Calvino e dos demais pilares do protestantismo. Era isso mesmo que Paulo,
Samuel, e o próprio Senhor queriam dos seus discípulos? Eles buscavam papagaios
que apenas repetem frases prontas? Ansiavam por lagartixas que balançam a
cabeça sempre no mesmo sentido? Escolas teológicas existem para promover o
estabelecimento de padrões doutrinários denominacionais ou para serem casas de
instrumentalização de homens e mulheres que com o uso correto das ferramentas serão
capazes de promover reflexões sérias, sinceras e comprometidas com a Palavra de
Deus?
Mark é entristecedor ler nas redes sociais
as opiniões medíocres dos zumbis da
teologia. Não há reflexão, contextualização, não existe conhecimento... Os pensamentos são sempre tão consistentes quanto um prato de
macarrão instantâneo, tão firmes quanto castelos na areia do mar, tão
duradouros quanto a moda da hora. Não há erudição! Não existe a
busca pelo saber. Pensamentos limitados se travestem de uma linguagem pseudo
piedosa. Fica a impressão que erudição e piedade são cruelmente distintas e com
isso, são inimigas declaradas.
Calvino, John Owen, Lutero, Spurgeon,
Martin Lloyd Jones, John Piper e tantos outros servos de Deus (sem contar
Paulo, Isaías, Salomão, Samuel...) depõem claramente contra essa visão nojenta
de que boa teologia, profundidade e erudição são inimigas da piedade. Profundidade
teológica e vida piedosa são irmãs gêmeas.
Tenho certeza que há escolas que querem
cabeças pensantes, mentes que instigadas, atiçadas pelo desejo fiel de ir mais profundo
no texto bíblico, sendo capazes de buscar ser o mais fielmente possível a intenção
autorial e aplicando de maneira mais coerente o texto à vida dos leitores. Tenho
o prazer de ter como companheiros no ortopraxia dois colegas professores e um
aluno de uma dessas instituições.
Sabe mano Mark, o grande desafios das
nossas escolas de Teologia é encarnar de forma muito evidente duas verdades: 1)
Precisam ser lugares de gente piedosa mesmo, pessoas inteiramente comprometidas
com o desejo de viver o princípio de
Romanos 12.1,2 em todo tempo. 2) Precisam serem vistas como lugar de debate,
reflexão, embates teológicos, confronto de ideia. E digo isso sem o menor medo do que falo.
Escola teológica é o lugar onde todas as heresias devem ser expostas,
combatidas e abatidas. Não é o espaço onde todos concordam com tudo
facialmente. Escola de teologia não é
lugar de total harmonia.
Permita-me citar o exemplo do ortopraxia. Eu sou presbiteriano
conservador (há quem diga que sou liberal – deve ser porque sou meio aloprado –
eita, vou escandalizar mais alguém), sou reformado, calvinista, pedobatista,
aspercionista e amilenista e cada dia mais amigo do pensamento cessacionista
(embora não me veja no direito de fechar questão quanto a isso). O pastor
Joelson Gomes e o professor Temístocles Mendes, colegas no STEC (Seminário Teológico
Congregacional) e aqui no blog são congregacionais, também reformados, não pedobatistas,
com pensamentos diferentes dos meus acerca de vários assuntos. Já discutimos
sobre alguns desses temas; não fechamos e não fecharemos questão. Os nossos
alunos não são obrigados a “engolir no seco” os conceitos meus ou deles. Ao
contrário, são levados a refletir, a discutir, a discordar a buscar a coerência
com o texto bíblico. SÃO INSTIGADOS A REFLETIR E NÃO A MERAMENTE
REPETIR!
Olha Mark os zumbis teológicos conseguem carregar consigo toda uma mazela que a
cada dia se perpetua nas igrejas evangélicas. Eles tornam-se insensíveis ao erro,
não são capazes de identificar falsos profetas, músicas com letras heréticas.
Tornam-se idólatras e defendem com unhas e dentes seus “heróis” de uma fé sem
Bíblia. Quer experimentar? Chegue em algumas escolas teológica e abra a boca
contra Malafalha ou contra o Distante do Trono, ou mesmo contra o “Mais Cedo”.
Você será apedrejado, chamado de radical, de intolerante.
Claro que ainda acredito que é possível
acreditar em boa teologia nesse país. Disse que ensino hoje numa instituição
que preza por isso. Creio que há diversas outras casas teológicas que de fato
formam mentes pensantes e não meros papagaios. Sei também que em meio a tantos Zumbis existem aqueles que mesmo
estando em escolas medíocres, não foram tragados pelo sistema. E é por vocês
que oro diariamente e peço ao Bom Deus que lhes preserve livres das “mordidas
vorazes dos Zumbis da religiosidade”.
Que o Deus da Bíblia nos cuide!
Um abraço do seu amigo de luta (Jd 3,4).
Pr. Caco Pereira
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