Olá
queridos,
Faz
tempo, não é mesmo? Acho que “teias de aranha” já dominam as páginas do Ortopraxia. Por diversas razões parei
de escrever. Na verdade, tenho um monte de desculpas para não compartilhar meu
pensar acerca da prática cristã, mas elas apenas servem para esconder uma fuga
desesperada daquilo para que Deus me chamou.
Deixa eu tentar falar um pouco sobre isso.
Nos
últimos anos tudo se transformou em minha vida, passei por um verdadeiro “tsunami”,
uma onda maldita (ou não) das mais diversas e complexas transformações. Tem sido
um tempo difícil. Um período de aprendizado, de descoberta, de decepções e
reencontros. Enfim, muita coisa mudou.
Durante
algum tempo culpei meus “algozes”, lancei sobre eles a grande responsabilidade
por todo mal que me causaram e aos que amo. Os tive como responsáveis pelas
maiores rupturas que passei. Até que me voltei para o interior de minha alma e
como Jeremias em suas lamentações (Lm 3), reconheci que nesse tempo todo, o maior
inimigo, maior algoz, maior vilipendiador de tudo aquilo que Deus havia me
concedido era eu mesmo. SIM! EU SOU O
GRANDE CULPADO.
Nalgum
momento de minha história eu fraquejei, desisti, deixei que os pesos, as
mazelas, as dores, os dissabores da caminhada afetassem o que tinha de mais
precioso. Eu perdi o que mais amava e quem mais me amou. Decepcionei àqueles
que jamais poderia decepcionar, deixei de assistir, de cuidar, de proteger os
que deveriam ser os primeiros. Mais que isso, fui responsável por suas dores,
fui causador das suas lágrimas. Pequei por negligenciar minha maior missão de
pastor, cuidar do rebanho de casa. Sofri perdas irreparáveis, sofri rupturas indizíveis
cujas fendas jamais fecharão e por toda vida chorarei as dores causadas por mim
mesmo. SIM! EU SOU O GRANDE CULPADO.
Vivi
os piores dias de minha vida, chorei, lamentei, desejei a morte e Deus sabe,
busquei por ela. Nesses dias lembrei das
vozes que elogiavam, das cabeças que meneavam em sinal de aprovação quando
expunha a Palavra. A memória fazia ecoar nos ouvidos as declarações de amor
pastoral, os mimos e pensava: Quanta
hipocrisia. O corpo ainda sentia os “tapinhas” nas costas após os cultos. Onde estavam eles? Para onde haviam ido os
meus grandes amigos? Chorava! Apenas
chorava!
Hoje
não mais careço de culpar os outros. Cada um deve ser consciente das suas
mazelas e deve queixar-se o homem de suas próprias faltas. Queixo-me das
minhas, pois elas são renitentes em meu coração. Aqueles que também foram
agentes do que é MAU que se vejam
com Deus acerca dos males que causaram. Isso
já não é comigo e o que era de mim já não é.
Foi
nesse tempo de dor que aprendi a deleitar-me mais que nunca nas águas
tranquilas, conduzido pelo Pastor que em nada me faltou. Achei o refrigério da
graça e da bondade daquele que esteve comigo “no vale” mais tenebroso e que não
me abandonou quando toda bondade, toda gratidão, toda amizade e lealdade dos
que um dia me ofereceram a destra da comunhão, me faltaram. Foi nesse tempo de
dor que os “rios da graça” inundaram minha alma através de homens e mulheres
que o Pastor Supremo pôs em meu caminho.
VOLTANDO AS RUPTURAS...
Das
rupturas causadas, das separações, das interrupções foi resultante uma fuga da
vocação. Vi-me cada dia menos indigno e incapaz de ser pastor do rebanho de
Cristo. E ainda olho e digo: NÃO SOU
CAPAZ! Não sou mereço, não posso, não vou. E quanto mais digo isso, mais
sou conduzido a perceber que devo ir, que devo cuidar, que devo amar e que não
haverá satisfação em minha alma se não cumprir aquilo para o qual ELE me
comissionou. Não tem jeito, sou pastor, amo gente, amo vidas e alimentar o
Rebanho d’Ele é uma tarefa da qual não há como fugir.
Nesse
tempo minhas convicções acerca de Deus e de seu amor em nada mudaram. Na
verdade, pude experimentar na prática o cuidado e a preservação do Senhor da
graça sobre minha vida. Sua bondade e misericórdia se evidenciaram ainda mais
em meio às dores mais intensas que minha alma viveu.
O
que se asseverou ainda mais foi minha total aversão pela religiosidade, por
essa doença vil e aprisionadora do igrejismo, pelos seus agentes, pelos
aproveitadores da fé. Hoje mais que nunca, odeio
essa religiosidade perniciosa que transforma prédios em santuários e homens em
deuses. Abomino do mais íntimo do meu ser esse sistema religioso que
condiciona o derramar da bênção de Deus a atos obedientemente zumbídicos e
controlados pelas mãos dos “reis da fé”.
Meu
coração ainda mais tem ojeriza a essa “ingreja” que apresenta um deus “sabor de
mel”, um velho medíocre e “vingancista”
pronto a destruir num piscar de olhos os inimigos que os “apóstolos” de plantão
elegeram para a “ingreja". Minha alma repudia veementemente essa religião
que impõe pesos, agruras e cruzes que Cristo não impôs.
...UM RECOMEÇO
Esse
texto é mais que uma confissão de culpa, é mais que um lamento pelos que
deveriam ter sido, mas não foram. Ele marca o desejo sincero de recomeçar, de
refazer, de estar nos caminhos do Redentor e ser meio pelo qual os amados de
Deus encontrarão a Palavra da Redenção.
Não
irei mais fugir...reaprenderei, me refarei, consertarei o consertável e
voltarei a fazer o que mais me deu satisfação até hoje, cuidarei do rebanho que
tem Pastor.
Não
busco mais os títulos, os cargos, os
poderes, os tapinhas, os louvores. Não almejo honrarias, lugares, banquetes da
fé, aplausos.
Careço
apenas de uma Bíblia, já tenho! O povo? O Pastor proporcionará o encontro. Quero
apenas ser instrumento do REDENTOR.
É
hora de uma caminhada suave conduzido pelos CAMINHOS DA REDENÇÃO.
Crer.
Viver. Compartilhar!
Caco Pereira
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