Gostaria de
escrever mais uma das minhas ‘cartas’. Dessa vez meu destinatário é você. Sim,
você mesmo que está lendo agora. Nem sei se é homem, mulher, negro, branco, índio,
europeu, gay, bi, hétero, de direita, de esquerda, qual seu time, sua comida
preferida, enfim, não sei nada sobre você, nem preciso saber. Mas quero falar um
pouco com você. Pode “me” ler por alguns minutos? Vamos lá?
Oi,
Como andam as
coisas? Complicadas ainda? Ainda há feridas a serem cicatrizadas? Ainda há
dores machucando a alma? Ainda há dedos em riste? Talvez você pense que venho
lhe dizer uma porção de palavras lindas, lhe indicar versículos de “vitória” ou
alguma palavra de autoajuda, ou “promeça” – assim mesmo – de que sua
vitória vai ter sabor de mel. Sinto muito, mas lhe desapontarei. Não venho lhe
dizer coisas bonitinhas. Por amor, preciso fazer isso.
Bem, deixa eu ser
bem sincero: Algumas dessas dores, lamentos e tristezas que tem vivido, são
culpa sua. Você sabe que são; e se sou seu amigo, preciso dizer isso assim, na
lata, sem meias palavras, sem um falso amor que esconde verdade duras. Você tem
muita culpa nisso tudo! Então, na boa! Pare de culpar os outros, pare de arranjar
desculpas, assuma suas culpas, levante e mude os caminhos, refaça a história e
seja aquilo que de fato é pra ser. Pare de lançar nos lombos dos outros as
cargas que são suas.
Sei que vai
lembrar de tudo que tem vivido, das decepções, das tristezas, enfim, de tudo
que os outros lhe fizeram e fazem e que lhe causa tanta dor. Mas hoje queria
lhe chamar atenção para o que suas escolhas têm feito, sobre o que você tem
vivido como decisão sua e não dos outros.
Nós temos a mania
de sempre arranjar culpados. Outro dia, estava lendo minha Bíblia, e vi um
texto do profeta Jeremias, no Livro das Lamentações. “Por
que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios
pecados”.
O
povo de Deus estava sendo escravizado, sofrendo nas mãos dos inimigos e Jeremias
os convida a se queixarem deles mesmos. Era hora de refletir sobre suas
próprias ações contra Deus. Se eles queriam recomeçar precisavam aprender sobre
culpas como causadoras das suas dores.
Você
quer mesmo recomeçar? Então o primeiro passo é o do RECONHECIMENTO de suas
culpas, mazelas, incapacidades. Não um reconhecimento para remorso ou para
acomodação do tipo ‘Gabriela - eu nasci
assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim -, mas um ato de total desprezo
aquilo que tem se tornado em virtude do pecado que escolheu viver diariamente.
Quer mesmo fazer queixas? Queixe-se então do enorme crime de não buscar viver
para Deus, de ter feito de si mesmo um deus de egoísmo, de ambição, de maldade
e de uma porção de pecados eivados em sua alma, e que a cada dia lhe tornaram
mais odiável perante o Deus Santo.
Cara,
você está sendo duro e demasiadamente cruel. Você poderia me dizer. Foi
exatamente isso que senti quando ‘Jeremias’ me mandou parar de eleger culpados
para as culpas que são minhas. Eu tive raiva do profeta, afinal de contas, quem
era ele para me mandar queixar-me de mim mesmo? Mas lembrei que ele foi apenas
‘boca de Deus’ e que, a fala dura da Escritura, era na verdade a transformadora
voz do Deus que me ama dizendo: Ei, pare e venha! Achegue-se a mim!
Sabe,
nos últimos anos eu vivi a terrível realidade de arranjar culpados para minhas
dores, para minhas lutas, para ‘covas’ que eu mesmo havia cavado e nas quais agora
sucumbia. Mas na verdade, o grande culpado era eu mesmo. Eu havia me
distanciado de Deus, magoado pessoas, havia entristecido o Espírito, eu errara
o caminho e buscava em outros pecadores como eu, as culpas que eram minhas. De
verdade, talvez você esteja fazendo o mesmo, por isso, digo cheio de amor: Quer
recomeçar? Queixe-se de si mesmo! O
exercício é fantástico.
Quando
continuei ouvindo a voz de Deus na Escritura percebi que era preciso avaliar o
que sou, medir a mim mesmo, e não aos outros “Esquadrinhemos os nossos
caminhos, provemo-los e voltemos para o SENHOR”. Se eu quisesse
realmente reencontrar a felicidade, precisaria me voltar para o Senhor Deus.
Não como um pedinte de coisas, mas como um pecador desgraçado, arrependido e
convicto de que não merecia nada de d’Ele. Era hora de derramar minha alma ante
o trono da graça e clamar pelos cuidados do Deus do recomeço. Era momento de
como o ladrão na cruz pedir para que Ele se lembrasse de mim. Precisava como o
moço da parábola, sair do meio dos porcos e clamar por migalhas vindas do Pai.
Por
isso lhe digo com toda convicção do meu coração. Ainda que você esteja com a
alma abatida cruelmente, com o coração eivado de dores, angústias, culpas, e medos,
invoque ao Senhor! Adore ao Senhor! Clame ao Senhor!
Com
o coração tomado de fé e alma rasgada em arrependimento, lance sua vida diante
d’Ele. Tenha certeza que Ele sairá em seu socorro. Não para lhe atender
caprichos ou para lhe promover vinganças egocêntricas, mas para tratar
intimamente das suas mazelas, daquilo que lhe apodrece a alma e lhe torna
odiável perante Ele.
Nesse
dia você poderá dizer que: “Da mais profunda cova, SENHOR, invoquei o
teu nome”. E ainda mais: “De mim te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas. Pleiteaste,
Senhor, a causa da minha alma, remiste a minha vida”.
Olha, nós dois somos pecadores miseráveis. Não importa quais os meus e
os seus, eles são pecados horríveis e nos afastam de Deus. Mas Ele é rico em
bondade e misericórdia e pela obra de Cristo Jesus, na cruz do calvário Ele nos
faz trilhar um novo e vivo caminho, um caminho de recomeço, de vida e alegria.
Não de modo transitório, mas um caminho de eternidade.
Então, não sei quais suas culpas, suas dores e mazelas, mas de uma coisa
eu sei. Ele e somente Ele pode lhe conduzir...
Que sua oração seja: Converte-nos a ti, SENHOR, e seremos
convertidos!
Deus lhe cuide!
Um grande abraço!
Caco Pereira
Ps.: Leia Lamentações de Jeremias Capítulo 3
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