Essa foto
tirada em Bodrumm, Turquia traz à tona uma verdade das mais difíceis de admitir: A HUMANIDADE É DESUMANA. A imagem é de
um garotinho de 3 anos, chamado Aylan Kurdi. Era sírio e durante sua curta vida
permaneceu fugindo de uma guerra civil que já matou e desalojou por volta de 2,5
milhões de pessoas.
Sua família saiu da Síria e atravessou a Turquia inteira, com o objetivo final de chegar na Alemanha; porém o barco de Aylan virou e como resultado, ele, sua mãe e seus três irmãos faleceram.
Ao ver
a imagem confesso que chorei. Chorei, simplesmente chorei muito. Em minha mente
veio meu pequeno Matheus. Ele tem dois anos e “o vi” ali caído, morto, inerte. Vi a
foto do pai, um “sobrevivente” dessa tragédia e agora choro ainda mais,
imaginando a dor desse homem.
O
pequeno Aylan morto, ilustra uma realidade descabida, doentia e deplorável.
Estamos cada dia mais desumanizados. Somos
“bichos” cujas almas estão cada dia mais distantes de um ideal de amor e paz.
Essa desumanização é vista em escolhas que sempre nos põe um contra o outro.
O homem que deveria governar a Terra e
dela tirar seu sustento, viver em harmonia e amor, perdeu-se em si mesmo, em
seu egoísmo, ambição e fome de poder. Matamo-nos uns aos outros até por um par
de tênis usado.
Até quando sorrisos serão interrompidos pela dor, pelo estampido de balas, pelas perseguições, guerras e aflições? Até quando nossa maldade será tão cruel?
Aylan, de 3 anos, (à esq.) e o irmão Galip, de 5, (à dir.) morreram em naufrágio nesta quarta-feira
Aylan
não morreu. Ele foi morto. Sim, assassinado de modo cruel por uma humanidade
desumanizada, bestializada e cada dia mais cruel. O ódio que faz com que homens
se digladiem em busca do controle de terras, de petróleo e até de outros
homens, fez com que esse menino e sua família se perdessem entre as águas.
Infelizmente
ele não foi o primeiro e mais infelizmente ainda, não será o último. Continuaremos
perdendo gente para nós mesmos, para nossas ambições e cobiças. Continuaremos nessa luta desvairada pelo
TER e continuaremos abrindo mão do SER, do ser humano!
É triste
afirmar que pessoas ainda serão perseguidas e mortas por serem pretas, índias,
cristãs, mulçumanas, ateias, gays, budistas, pobres, enfim, a intolerância e a
ganância ainda levarão muitas outras pessoas aos mares da morte. E nós
continuaremos nos “chocando”, chorando, lamentando e inertes. Afinal de contas,
a guerra “não é nossa”.
Será
que não mesmo? Ela é sim nossa. Essa droga de guerra é de humanos contra
humanos, contra a natureza e contra o Criador. Não fomos criados para isso.
Fomos feitos para uma relação com Deus e esse relacionar-se com o Senhor, deve
moldar a relação com os outros. Essa relação deve nos fazer compassivos.
Não
estou nem um pouco interessado em discutir sobre seu gueto de fé. Nem mesmo
estou perguntando se você a tem. Estou apenas dizendo que a distância de Deus
nos distancia do outro. Ah! Antes que você diga, eu direi: Muitos afirmam ser
de Deus e matam em nome dele. Não estou falando de afirmações de fé. Trato
de escolhas, posturas, prática.
Ah! Conheço ateus que são pessoas
fantásticas, cujos corações se inclinam para o bem de modo fabuloso, que cuidam
do outro de uma maneira que particularmente, espero dos que se dizem “irmãos da
fé”. Como explico isso? De um modo que os meus amigos ateus não vão gostar - como não escrevo para agradar - e sei
que já tem cristão que acha absurdo esse meu dizer, afinal de contas, apenas “crente
faz o bem”... - . Sua bondade é explicada pelo que Calvino chamava de Sensus divinitatis ou (sentido da divindade) - Segundo ele, o sensus
divinitatis dá aos humanos o conhecimento de Deus. Em
minha opinião, esse conhecimento de algum modo os impulsiona para o bem, mesmo
que sem a motivação de adoração ou mesmo reconhecimento da divindade.
LAMENTAR,
LAMENTAR
Lamentar
a morte do Aylan e permanecer mudo ante as barbaridades que acontecem por aqui
parece algo meio contraditório. Se me dói a morte dele, deve doer as que
ocorrem em virtude das drogas, do crime organizado, da homofobia, do racismo,
enfim, mortes bem mais “comuns” em meu país.
Lamentar
apenas, não me valerá muito diante de Deus. Na verdade, nem me valerá. Se não
for eu um pelejador pela paz, serei um pseudo cristão, um impostor em meio a
fé. Lamentar sem agir, me tornará apenas um maldizente.
Mais
que chorar, preciso ser agente de transformação disso tudo. Preciso caminhar em
busca do outro, mas não apenas em palavras, também em atos que promovam mudança,
restauração (também social) e vida!
Cristianismo
que apenas chora a dor não é compassivo. É hipócrita e “sentimentalóide”. Compaixão
é sentir as dores da humanidade desumana e se dispor a ser usado por Deus, para
pelo poder do Espírito Santo, mover-se em transformação.
Aylan
é a evidência de humanidade doída, moída, sofrida.
E
você, você é evidência de que?
Que
Deus nos ensine e nos torne humanos. Humanos são compassivos!
Caco Pereira
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