CARTA DE UM FUGITIVO




Nos últimos dias tenho sido questionado por alguns queridos por não mais ter postado aqui no ortopraxia. A resposta quase sempre é a mesma: Vou voltar a postar. Qualquer dia desses eu escrevo novamente.  Pois bem, depois de tanto adiar, protelar, enrolar... lá vou eu, lá vamos nós... vamos refletir novamente...
Quero começar escrevendo uma das minhas “cartas”. Ela será uma provocação ao meu amigo pessoal, irmão querido, pecador miserável e parceiro de ministério Renato Cunha. Vem comigo! Vamos provocar!


Renato,

Cabra de peia como estão as terras potiguares?

Bem, como com você não tem muito “arrudeio”, vou direto ao ponto.

Cara, estou fugindo. Em disparada completa, correndo apressadamente da igreja. Isso mesmo, estou cada dia mais longe dela. Tá tudo pesado demais pra mim e não estou querendo nem um pouco voltar a carregar pesos que Cristo não me mandou, cruzes que não são dele, regras totalmente alheias àquela Regra.

E sinceramente, preciso evitar que outros sofram com isso. Devo ser Boca de Deus e denunciar uma religiosidade que consegue tornar o homem ainda mais réu do inferno.

Sabe velho, amo ao Senhor da Igreja, mas abomino os “senhores”, os déspotas que da noiva se apoderam, a “estupram”, roubam sua beleza e a transformam em uma “rameira” nas esquinas das suas bodegas de fé.

Eles são inimigos do Noivo. Sinto asco, abominação mesmo desse farisaísmo moderno capaz de coar mosquitos e deixar passar manadas inteiras, dessa religiosidade mórbida e sórdida que está mais preocupada com status, poder, títulos, honras. Enfim, estou farto de uma religiosidade que prega amor e vive o desamor! Que anuncia alegria e pelo peso das obrigações produz infelicidade, insegurança e medo.

Odeio essa gente que com tapinha nas costas e beijinho no rosto ou talvez no ombro apunhala o Rei dos reis com a naturalidade de quem toma um copo de água, depois brada “glória a Deus”; se reveste com as máscaras da santidade, da virtude e da moral. Essa gente que não é capaz de se humilhar admitindo-se pecadora, carente da graça, bondade e misericórdia do Senhor.

Mano, nesses dois anos meio “sabáticos” ministerialmente tenho podido parar, ouvir mais pessoas, refletir, orar, estar perto de Cristo e na boa, sinto-me cada dia mais longe dos concílios, das pompas, das circunstâncias eclesiásticas e bem mais perto de gente que assim como eu, se reconhece pecadora e carente da graça. Pessoas que se olham e são capazes de dizer com toda simplicidade: “Cristo veio ao mundo salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”.

Não suporto esse neopentecostalisimo que transforma Deus em uma espécie de “Capitão Planeta da Gospelândia”, que determina o que o Senhor tem que fazer, que estabelece metas de unções, línguas, profecias, mistérios, gritos, pulos, poderes, jargões. Ah! Isso tudo é religiosidade, é show, é existencialismo barato, é isca pra pescar os otários da fé, os idiotas úteis.

Também não me encanta esse tradicionalismo frio, farisaico e asqueroso que transforma templos em túmulos cujos “mortos” são feitos de marionetes que se mechem conforme seus donos mandam. E se mechem bem pouco, no ritmo quase sepucral dos hinos tão belos e cheios de alegria e fé, mas cantados como em cortejo fúnebre de um defunto infeliz.

Essa disputa arrogante pelos “melhores lugares” na “inocente” briga denominacional simplesmente me enoja. Isso tudo não passa de uma guerrinha de egos de homens cheios de si e vazios de amor, bondade e misericórdia.

Renato, quero estar perto de gente de verdade! Quero chorar com essas pessoas, sorrir com elas, carregar seus pesos e dividir os meus com elas. Quero sentar até altas horas pra conversar sobre o que realmente interessa, sem me preocupar com o tamanho da conta bancária do cara e do dízimo que ele tem pra dar. Sem impor meus quereres, mas sendo guia numa caminhada suave sob o pastoreio do Supremo Pastor que nos guia pelas veredas da justiça.

Quero ser a boca que anuncia o Reino que já chegou, mas almejo ser as mãos que evidenciam em atos as palavras que anunciam chegada desse Reino em Cristo. Quero ser transformador, motivador, cuidador, ao passo que também quero ser transformado, motivado e cuidado por ovelhas como eu, por gente pecadora, consciente dos seus deméritos, mas arrastada pelo mérito do Merecedor!!

Enfim mano, sei que assim como eu, você também ama gente e não se ver doutro jeito que não seja cuidando do rebanho d´Ele. E sei também que você é um desses caras que cansou da religiosidade e está buscando viver a fé de modo simples e transformador, por isso sinto-me tranquilo em compartilhar dos meus anseios.

Um grande abraço mano véi!



Caco Pereira
ovelha do Pastor
pastor de ovelha

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