PAZ & MEDO




Há algum tempo uma música ou uma frase dentro da canção me martela a cabeça. A música em questão é A MINHA ALMA (A paz que eu não quero) de Marcelo Yuka, do grupo “O Rappa”. O trecho que ecoa é exatamente: “Pois paz sem voz, paz sem voz Não é paz, é medo!”. Gostaria de mencionar alguns fragmentos do meu pensar...
Não desejo falar sobre toda a música. Não pretendo fazer uma análise da poesia ou da mensagem nela contida. Mas quero mencionar o que me chamou a atenção. O que prendeu e instigou meus pensamentos. Refiro-me a  essa afirmação gritante, latente que chega a doer “positivamente” em meus ouvidos e que fez a minha alma bradar: PAZ SEM VOZ NÃO É PAZ, É MEDO!
Em pleno século XXI ainda se escraviza o homem em uma prisão de acomodação por preguiça, letargia ou mesmo por medo de enfrentar aquilo que lhe aflige, afronta e corrói. Por muitas vezes essa postura que beira a covardia é aplaudida como um esforço piedoso em busca da paz. Eles se entregam ao sistema, ficam mudos e acomodados. E recebem um “título” de pacifistas ou de promovedores da paz. Já aqueles que têm outra postura e lutam, clamam e reclamam são tidos como inimigos da paz, do bem, da ordem. São loucos, ébrios, insanos.
Infelizmente a IGREJA é um dos lugares onde em muitos momentos e sob diversos aspectos, impera essa falsa paz, esse sentimento de acomodação, letargia e preguiça de pensar e falar. O ambiente eclesiástico é extremamente propício para que, em nome da paz, do respeito, da honra e do testemunho cristão, alguns dominem muitos que permanecem mudos, apáticos, incapazes de gritar!
Quando alguém se posiciona contra aquilo que faz parte da “tradição” levantam-se imediatamente os paladinos da justiça, os donos da moral, os senhores do saber, os detentores dos oráculos mais precisos para calar a boca do insano que se postou de forma contrária ao que “deve ser preservado” na busca da paz. E em nome disso, aplica-se uma nova e igualmente vil “santa inquisição”. E a isso se dá o nome de paz. Mas PAZ SEM VOZ NÃO É PAZ, É MEDO!
Lembro-me que um dia em uma reunião eclesiástica questionei sobre determinada prática de alguns líderes flagrantemente errada ao contrastada com a Escritura. Um “pilar eclesiástico” levantou-se disse que não admitia ser repreendido por um “moleque recém-ordenado”. E o que se esperava? PAZ SEM VOZ! Mas prefiro a guerra! Dou-me a batalha, mas não me contento com essa falsa paz, com esse comodismo que escraviza, corrói e mata como um câncer cruel e desenfreado. Qual o resultado? “santa inquisição”!
            Não posso ficar calado quando vejo pastores “lançando no inferno” cristãos que deixaram de ir ao culto para assistir o jogo da seleção brasileira de futebol (não pretendo discutir a escolha, mas abomino esse juízo infame) ou tratando como falsos pastores aqueles líderes que decidiram mudar o horário de suas programações em virtude do mesmo jogo (também não discuto essa escolha, mas odeio os santarrões que sacralizam horários). É lamentável perceber que do outro lado, aqueles que optaram por ficar em casa ou mudar o horário dos cultos atacam os primeiros e se mantém uma guerra imbecilizada que apenas faz sofrer a Igreja e entristece o seu Deus.
Não posso viver essa PAZ SEM VOZ que impede que cristãos saiam às ruas com gritos pela justiça social, por uma educação de qualidade, por moradia, saúde, agricultura, enfim, por um país melhor.  Não irei ficar calado por ser crente e querer a paz. Aliás, é exatamente por isso que bradarei, é por isso que farei ecoar aonde meu grito chegar: QUERO A PAZ, MAS AQUELA QUE SE CONSTRÓI SEM MEDO, SEM AMARRAS!
Em tempos de sofrimento e dor, de fome e aflição o apóstolo Paulo falou de uma paz que ultrapassa todo entendimento (Filipenses 4.7). Ele estava falando daquela que só Cristo dá. E o próprio Jesus disse que veio trazer essa paz (João 14.27). Pena que achamos que tê-la é não viver sofrimentos, é ficar calado para a “corda não romper do nosso lado”, é fingir que a dor não dói. Precisamos entender e fazer as pessoas entenderem que a paz que Cristo promete não é ausência do mal, mas é convicção absoluta da presença d’Ele em meio a todas as aflições e dores, mesmo que sejam dores de morte (Salmo 23.4).
Quero desafiar você a buscar em Cristo a verdadeira PAZ, também quero convocá-lo para luta. Há uma guerra em nossos guetos religiosos, mas a batalha não é contra as forças ocultas do mau - ou é! Risos. É uma peleja contra nós mesmos, contra a capacidade de nos acomodarmos as dores, as mentiras, as insanidades daqueles que escravizam, oprimem e fazem sofrer o povo de Deus.
Eu e você precisamos lutar em favor da verdade, precisamos falar, gritar e fazer ecoar nos quatro cantos do mundo que PAZ SEM VOZ NÃO É PAZ, É MEDO! Devemos DESPERTAR as pessoas e dizer que é hora de ressuscitar a voz, fazer levantar a alegria e viver como loucos que falam, gritam, choram, mas não se acomodam diante de tanto sofrimento. É hora de viver a verdadeira paz, mas aquela que não se constrói com o silêncio acomodado e amedrontado, com acordos eclesiásticos ou com “cala-te boca ungido”. A paz em questão, a paz de uma consciência que pode debruçar-se no travesseiro e repousar tranquila é resultado de um grito, de um brado, de uma voz que pronuncia a verdade com sinceridade e amor!
Busquemos a paz com voz, pois se ela for muda será apenas medo e medo é uma prisão avassaladora. Libertemo-nos e experimentemos a paz!

Caco Pereira
Buscando paz sem medo!


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