SOMOS
PROTESTANTES - Entendemos
isso errado!
A
Igreja cristã brasileira, especificamente os ramos protestantes não entenderam
seu papel conforme determinado pela Escritura Sagrada. Falo da designação
bíblica da Igreja como Comunidade Profética. Como agente de combate ao pecado,
ao erro, enfim, a tudo que é contrário ao caráter de Deus.
Em sua
maioria, os cristãos entendem que devem protestar contra a idolatria, a
mentira, o adultério, enfim, contra uma gama de pecados mais “desprezíveis” -
embora vivenciados no meio protestante. É evidentemente bíblico que a Igreja
deve sim pregar contra tais “escolhas”. Mas refiro-me a outro aspecto urgente
para o qual a Igreja precisa ser voz de protesto. O aspecto das injustiças
sociais, da fome, do desamparo aos necessitados. Quero refletir sobre a nossa
culpa silenciosa.
Quando
passeamos pelas páginas das Escrituras vemos os profetas no Antigo Testamento,
Tiago, irmão do Senhor, Paulo e o próprio Jesus falando sobre a necessidade de
uma preocupação com a justiça social, com o cuidado do outro. Lemos na Bíblia que “... a religião pura e imaculada para com
Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e
guardar-se da corrupção do mundo”.
Mais
que ser levados a cuidar dos necessitados a Bíblia nos convoca a sermos amigos
da justiça, a ser justos com padrões extremamente elevados. Mas infelizmente
achamos que ser cristão é “apenas” combater pecados mais “espúrios”. Como se
fome, nudez, exploração, violência não fossem realmente espúrios. A Igreja é
capaz de abraçar um político desonesto, dando-lhe o púlpito, o aplauso, a
honra. Mas também está sempre pronta a apedrejar o homossexual, a prostituta, o
drogado, enfim aqueles que estão à margem. A Comunidade que deveria
acolher ensinar e ser por Deus agente de mudança, prefere ser meio de exclusão e
injustiça!
Precisamos
voltar os olhos para os profetas do Antigo Testamento. Olhemos Isaias 58 e
veremos um Deus preocupado com a opressão, com a injustiça que dominava os
governantes da época. Se observarmos os pregadores da Reforma, veremos
homens de Deus com um forte grito pela justiça e igualdade. Se conhecêssemos
Francisco de Assis, Martin Luther King e Dietrich Bonhoeffer, veríamos que
cristianismo vai muito além de uma teoria de acusação das culpas alheias.
Ser
cristão não nos torna “Et’s” indiferentes ao mundo. Ao contrário, se realmente
amamos a Deus, devemos ser amantes do outro, cuidadores de todos, sejam quem
forem. Se de
fato amamos a Deus, precisamos amar o próximo e esse amor inevitavelmente nos
fará abominar a injustiça, a violência e todo tipo de mazela que ofenda o
próximo.
Não
compreendo um cristianismo que rejeita as lutas sociais como se elas fossem um
legado da mal ou do mau. Elas não são obra de Satanás. Uma Igreja indiferente,
inerte, letárgica é muito mais instrumento do Diabo do que Coluna e Baluarte da
Verdade. Calar ante a injustiça é compactuar com ela e compactuar é agir de
forma contrária ao objetivo para o qual fomos criados.
E antes
que você diga que a Igreja não tem culpa do que ocorre no mundo atual, quero
dizer que tem sim. Somos todos culpados sim, carregamos em nossos ombros a
culpa da complacência, da inoperância, da inércia... Pesa sobre nós a culpa
pelo silêncio diante da corrupção, da violência, da exploração do menor pelo
maior. Sejamos sinceros e admitamos que vivenciamos a NOSSA CULPA SILENCIOSA.
Nossa
culpa silenciosa é declarada por não termos coragem de protestar contra as
mortes nos hospitais em virtude de uma má gestão ou contra uma educação de
péssima qualidade. Fica claro que silenciosamente vemos e não nos indignamos
com o roubo da honra de uma nação. Ficamos "quietinhos" com o
"jeitinho brasileiro". Não abrimos a boca diante dessa podridão moral
que assola essa nação. E
ainda temos coragem de dizer que estamos sendo cristãos?
Abrir
mão de ser uma Igreja que se envolve na luta contra a exploração do menor pelo
maior é largar a batalha nas mãos do inimigo. É deixar que oportunistas com a
motivação errada lutem a peleja que as pessoas certas foram covardes para
lutar. Não defender os direitos iguais por medo dos super-direitos é ser tão
vil quanto os que querem uma ditadura da minoria. Não ir para rua por não
ser vândalo é ser convivente com aqueles que solapam o direito alheio.
Protestar
contra alguns pecados e fechar os olhos aos outros é sinal de que não
compreendemos o que é ser cristão, e isso transforma o cristianismo em um mero
sistema de exclusão dos “espúrios” aos olhos dos santarrões. Transforma o
cristianismo em um movimento cruel e oportunista. E o mundo carece de um
cristianismo relevante, um movimento filosófico, social, cultural movido de um
profundo senso de justiça, retidão e respeito. O mundo carece que a Igreja seja
aquilo para o qual foi criada pelo Senhor.
Protestar,
é hora de fazer isso certo!
Caco,
querendo um protestantismo correto.
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