Durante muitos anos critiquei as pessoas
que se diziam cristãs, subscreviam as doutrinas evangélicas, mas simplesmente
não queriam mais congregar. Sempre me utilizei de textos como “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de
alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o dia se
aproxima.” Hebreus
10.25. Hoje depois de algum tempo convivendo com, e sendo mais um cristão
protestante tenho algumas ponderações sobre esse assunto.
Conheço pessoas
que de fato amam ao SENHOR,
testemunham de Seu amor, graça e bondade, mas em determinado momento da
caminhada resolveram tirar alguns pesos das costas. Servos
que em dado instante viram que infelizmente a religião os afastava de Deus ao
invés de aproximá-los. São ovelhas do pastoreio d’Ele, MAS foram feridas,
magoadas, maltratadas e simplesmente se viram infelizes onde deveriam ser
amadas, acolhidas, cuidadas, protegidas...
Continuo
acreditando que é preciso congregar, que a Igreja enquanto instituição é falha,
mas que ainda é um lugar seguro. No entanto, preciso admitir que por muitas
vezes, tem se tornado lugar de dor, de aflição, tristeza, decepção, frustração...
Isso mesmo amado, hoje embora não concorde ou
ainda relute com essa postura, eu a
entendo. Sim,
consigo calmamente dizer que encontro motivos justos para “aqueles
que são, mas agora não estão”.
Não estou falando de pessoas que se dizem
cristãs, querem viver uma falsa fé e por isso não aguentam ser Igreja. Refiro-me a pessoas que foram regeneradas,
justificadas por Cristo, que se tornaram operosas, firmes no amor ao Senhor,
mas que foram tão moídas e afligidas onde deveriam encontrar refrigério que não
suportaram o peso e precisaram “descansar das cargas da
religiosidade”. Sim, conheço pessoas assim. Gente
fiel ao Senhor! Gente que O tem como Soberano.
Já vi pessoas terem o passado remoído, a honra
manchada, o nome jogado ao chão. Vi também calúnias serem levantadas, falsos
testemunhos, mentira, hipocrisia. Testemunhei pessoas sendo postas “de lado”
porque não tinham os mesmos costumes ou por terem opiniões diferentes. Isso
tudo em nome da RELIGIÃO, dos “bons costumes”. Vi pessoas “crucificadas” porque
não baixaram a cabeça para o erro, porque não se subjugaram a decisões e
posturas contrárias ao Senhor.
A
fofoca, o disse-me-disse, a falta de amor, de solidariedade, de justiça, as
promessas vazias em pregações feitas para agradar o freguês e promover lágrimas
fúteis são instrumentos usados pelo Diabo para simplesmente afastar pessoas da
Igreja. E infelizmente preciso reconhecer que muitos líderes, muitos dos que
deviam apascentar, apenas afugentam. São lobos em peles de cordeiro e querem
devorar, destruir...
O
pior de tudo é que não percebo esforços para trazer essa gente de novo para
perto; é como se eles fossem descartáveis, indesejadas, imprestáveis... Até
parece que existe alívio nos corações de muitos quando essas pessoas saem. O pastoreio
perdeu-se em meio ao ativismo, ao evangelicalismo e a imensa postura
empresarial e ditatorial das comunidades ditas cristãs. Parece-me que o pastor
que vai a busca da única ovelha que ficou pelo caminho já não existe mais. A
igreja tem deixado de ser IGREJA e por isso, perdido o seu perfil pastoral,
cuidador, zeloso.
Sabem
como passei a entender esses queridos? Quando comecei a refletir como eles,
quando me senti como alguém que “é, mas não quer estar”. Tenho
adquirido nos últimos tempos um costume meio solitário, mas altamente
devocional. Pego o carro e saio dirigindo acompanhado unicamente por Aquele que
não me deixa em tempo algum. Nem importa para onde estou indo, apenas com quem
estou... Nesses momentos ponho meu coração, sonhos, angústias, pecados, enfim,
ponho-me diante d’Ele. Exatamente em situações
como essa reflito sobre a coisa institucionalizada demais, burocratizada
demais, medida demais, farisaica demais em que estamos transformando a NOIVA do
Cordeiro.
Um
dia desses percebi que não me encaixo nessa coisa toda. Não sou um desses supra-santos,
não sou infalível, impecável. Sou um pecador miserável, sem dignidade, sem
merecimento, sem bens... Sou um desses que simplesmente não
cabem numa igreja tão cheia de exigências pretensamente morais. Ah! Mas sou
pastor, pensei eu dentro do carro em uma dessas curvas da vida. Isso era apenas
um eco do que escuto sempre que “não agrado” aos fariseus, aos “donos”,
dominadores. Senti nesse momento como resposta uma paz tão doce em meu coração
ao ter em minha mente um eco da graça que me dizia: “seja ovelha, pois é apenas isso que importa”.
Continuo crendo que é preciso congregar, que é
preciso crescer junto, aprender, caminhar... É sim doce a comunhão dos remidos
do Senhor. Mas essa gente que parou de congregar não optou por estar fora da Igreja,
apenas libertou-se de uma igreja tacanha, mesquinha, fofoqueira, sugadora e nem
um pouco pastoral. É triste constatar isso, mas infelizmente a grande verdade é
que muitos dos que “estão
não são e diversos que são não estão” e
provavelmente só estarão quando o Supremo Pastor voltar.
Oro
por uma Igreja acolhedora, amável, militante, proclamadora. Uma Igreja que ama
o Seu Dono de tal forma, que não deseja outra coisa senão adorá-lo. E por ser
assim, ela se ama. Por amar, cuida, protege, pastoreia. Essa Igreja, essa bela
Noiva não exclui, ao contrário abraça e trata os feridos. Não aponta o dedo
trazendo a tona o passado sujo do outro. Na verdade ela é instrumento do Senhor
para restaurar as mais purulentas feridas.
Se
a igreja que somos resolver ser assim, seremos de fato Igreja e os que são e não
estão, estarão e serão felizes!
Que o Supremo Pastor nos faça
SER, mais do que simplesmente ESTAR!
Caco,
uma ovelha
14 comments