Li
hoje sobre as declarações de uma vereadora de João Pessoa sobre as secretarias
das mulheres. A parlamentar afirmou que as secretarias em questão estão cheias
de me mulheres que
“são mal amadas e, por isso, de certa forma frustradas. A vereadora afirmou que
muitas que atuam nos movimentos feministas, e que fazem parte da administração
pública, não gostam de homem” (Leia em).
Sabe o que acho? A vereadora
perdeu uma excelente oportunidade de ficar calada! Não concordo com
algumas posturas e lutas do movimento feminista. Entendo que feminismo e
machismo são nocivos e que existem em função um do outro. Recentemente escrevi
sobre essa questão (Leia em). MAS não
preciso concordar com tudo para reconhecer o trabalho digno que sempre vi por
parte da Secretaria
de Políticas Públicas para as Mulheres da Prefeitura Municipal de João Pessoa.
Por algumas vezes pude contemplar
o trabalho sério liderado por mulheres guerreiras como Nézia Gomes, Joyce
Borges e tantas outras mulheres destemidas. Quando
tratamos de defender a dignidade humana, não importa a opção sexual, a cor da
pele, a classe social, a idade... O que realmente importa é a responsabilidade
que temos em garantir que cada pessoa seja tratada com honra, justiça e dignidade.
Nesse caso específico, a luta é pelo
direito de não apanhar!
Existem “mulheres que não gostam de homens lá”? Sei lá, talvez existam.
Mas o que tenho eu com a vida pessoal de cada uma delas. O que sei é que defendem a
dignidade do ser. O que sei é que encaminhei pessoas que precisavam de ajuda e
foram ajudadas, é que quando liguei para elas tive resposta imediata.
Sou cristão e pastor presbiteriano. Não tenho nenhum problema
em dizer que defendo biblicamente o casamento heterossexual, que entendo como
pecaminosa qualquer prática sexual contrária a prevista na Escritura. MAS existe
uma enorme lacuna entre crer, pensar e viver diferente e DESRESPEITAR as
escolhas do outro. Se por um lado
discordo das escolhas por outro respeito pessoas que as fizeram.
Até acho que algumas mulheres são
extremistas em suas lutas, mas onde não há extremistas, fanáticos e radicais?
Em nosso meio evangélico há muita gente exatamente assim. Ou não?
A parlamentar afirmou que as feministas
orientam o divórcio. Embora essa não seja a regra, quero saber o que a senhora
faria se uma pessoa a quem amasse muito apanhasse diariamente, fosse humilhada,
violentada em seus direitos primários? O que aconselharia? Como agiria? Seria
omissa? Aconselharia a apanhar calada?
Acredito sem a menor sombra de
dúvida que DEUS muda qualquer pessoa, restaura qualquer relação por pior que
seja, mas também acredito vereadora que não tenho, como pastor o direito de
insistir para que uma mulher permaneça apanhando, sofrendo, sendo violada,
humilhada e entenda que deve permanecer com uma relação que na verdade nem
existe. Certos casamentos nem existem e
muitos “maridos” devem ser presos sim vereadora. Não defender isso é levantar a bandeira da
violência. E usar a fé para isso não é nem um pouco cristão. Defender a
família não é defender a violência!
Talvez muitas das mulheres que
defendam as causas feministas sejam sim mal amadas. Provavelmente carreguem no
corpo e na alma as marcas da violência causada por um “bicho travestido de
homem”. Certamente isso torne algumas delas mais aguerridas, extremistas...
Podem elas ter perdido a esperança de encontrar homens decentes e não queiram
mais viver novas relações. É lamentável
que uma vereadora não se perceba como fruto da luta feminista e contribua para
a desesperança de outras mulheres.
NÃO SOU FEMINISTA! Discordo de muitas lutas sim. Minhas amigas feministas sabem disso.
Discuto com elas e o faço com RESPEITO. Talvez
por isso permaneçamos amigos. Não gosto nem um pouco dalgumas posturas delas,
assim como elas discordam de pensamentos meus. MAS não suporto ver o
desrespeito com pessoas que travam lutas justas. E vereadora, diversas
bandeiras por elas erguidas são dignas demais.
Como cidadão e cristão me vejo no
direito de, ao passo que digo não concordar com algumas posturas, também dizer
que aplaudo o trabalho de acolhimento, cuidado, defesa e proteção dado a
mulheres de todas as idades, cores, opções sexuais e classes sociais. Reconheço
com toda tranquilidade que essas mulheres que segundo a senhora vereadora são “mal
amadas” tem dispensado um amor sincero por outras que carecem de cuidado e
proteção.
Ainda quero dizer que a melhor
forma de mudar algumas coisas das quais discordo na luta não é ficando calado e
apontado o que vejo como errado, é entrando na luta, é lutando com, é chorando
e sofrendo com! Só assim posso contribuir de fato!
Por fim, deixo um abraço sincero
e cheio de gratidão a cada pessoa que luta pelo direito de não apanhar calada!
Caco Pereira
um pastor chateado!
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