Quero
escrever mais uma carta hoje. Desta feita, endereçá-la-ei ao meu colega
de ministério e amigo Robinson Grangeiro.
Olá
Robinson,
Como
estão Séfora e as “crianças” (tenho aprendido que filhos sempre serão crianças)?
Espero que bem, sob os cuidados do bondoso Deus. Como anda a saúde? E a Igreja?
Sinceramente desejo que tudo esteja em paz.
Estou
escrevendo porque já não temos tido tanto tempo para conversar. As muitas
atividades, a correria do dia-a-dia impede-nos de ter contato com maior
constância. E hoje bateu uma saudade de sentar com você e outros colegas para
falarmos de ministério, família, concílios, projetos, alegrias, tristezas.
Pastor
na verdade quero lhe pedir umas opiniões, conselhos de alguém que apesar de
jovem já tem uma longa jornada no ministério. Faço isso com tranquilidade, pois
lembro que logo no início do meu recente pastorado, você passou um bom tempo
falando comigo ao telefone, dando conselhos e sendo usado por Deus para
aquietar meu coração em um momento de revolta.
Robinson,
tenho estado preocupado faz algum tempo com o que vejo acontecendo em nossas
igrejas. Nem falo das sandices neopentecostais ou dos libertinos, nem dos
modismos da música gospel. Isso tudo me preocupa sim, entristece e muitas vezes
enfurece o coração. Mas o que tem tirado meu sono, me deixado
meio “sem rumo” é a postura ou a falta de postura dos ditos reformados.
Preocupa-me
que aqueles que ostentam ter a melhor doutrina, os melhores exegetas, os
pregadores expositivos, enfim, a “nata” da teologia brasileira, tenham uma
postura de tanta letargia, inoperância e de não relevância. Como
temos contribuído para a mudança desse país? Que igreja é essa que permanece
letárgica, estática, inerte? Que respostas são dadas aos questionamentos de um
povo que vive da fé, mas como diz a canção “só não se sabe de fé em que”.
Dá
vergonha pastor de perceber que aqueles que “podiam mudar o mundo” estão mais
preocupados com cargos, honras, posições e aplausos. Como
posso ser pastor, servo do Senhor e comungar com estruturas totalmente
contrárias ao caráter do Deus a quem servimos? É possível ser servo de Deus e
de ideologias que lhe são inimigas?
Robinson,
o cenário causa dor, lamento, decepção. Dói ver pastores que a si mesmo se
apascentam, homens vis que espalham suas sujidades fazendo sofrer o povo de
Deus. É avassalador ao coração de qualquer servo de Deus ver famílias inteiras
sendo espezinhadas por figuras arrogantes e interesseiras que usam a Igreja
para satisfazer suas ambições pessoais. Causa espanto perceber que tantos
indivíduos que se travestem de pastores são lobos gananciosos que só querem ser
pesados à Igreja. Ladrões! Roubam sonhos, esperanças e alegrias de
servos fiéis ao Senhor. Isso é muito maior do que roubar dinheiro.
Quero
ser pastor no sentido mais nobre disso. Não busco aplausos, honras, não aspiro
poder, almejo apenas ser amigo, direcionador, companheiro, servo, líder, pai...
Quero poder chegar em casa no final do dia e ter no peito a prazerosa sensação
de está indo bem na caminhada. Desejo chegar ao fim dos meus dias e assim como
Paulo dizer que combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé.
Mas
como ser um pastor relevante meu amigo? Como posso ser combativo com erro,
imbatível com os falsos profetas, inimigo do que Cristo é, e ao mesmo tempo ser
pastor, amigo, protetor do rebanho? Como responder aos anseios de um povo que
nem percebe que não carece de descarrego, reteté, mistérios, mantras, mas
apenas da graça de Deus?
Estou
certo que a sociedade não carece de meros “fazedores de teologia”. O mundo
precisa de teólogos na prática. As pessoas clamam por uma ação pastoral de uma
igreja que não lhes aponte o dedão acusador, mas que lhes estenda uma mão
acolhedora, trate suas feridas e lhes alimente com a verdade e que se disponha
a ouvir pacientemente e responder os questionamentos.
Fico
por aqui, não quero mais prantear (risos). Perdoe o desabafo de um jovem pastor
que nalguns momentos é tomando por uma triste sensação de que “estou lutando
sozinho”. Mas que logo é aliviada pelas palavras do Senhor a Jeremias (Jr 1.8)
e pela convicção de que homens como você e tantos outros servos fiéis tem
lutado por uma igreja firme, reformada e contextualizada.
Um
grande abraço!
Do
seu servo
Rev. Ricardo Jorge Pereira
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