NÃO GOSTO DE PIMENTÃO. SOU RIDÍCULO?



SOU CRISTÃO PROTESTANTE CALVINISTA PRESBITERIANO. É exatamente assim que posso ser definido com relação a fé, convicção e vida eclesiástica. Tenho um grande amigo/irmão que agora se coloca como ateu. Conheço um budista (que inclusive deu o moto para esse texto). Maior parte das pessoas que amo é católica. Há também espíritas, pentecostais, neopentecostais, talvez pessoas envolvidas com cultos afros, enfim, relaciono-me com TODO TIPO DE PESSOAS.
A frase que li no MSN hoje e que deu o “moto” para esse texto foi: Não gosto de comer pimentão, mas não preciso ridicularizar quem gosta pra me sentir por cima (Félix Maraganha). Pois bem, quero conversar um pouco sobre isso, sobre a liberdade de crer, pensar, escolher (antes que os meus amigos fariseus teológicos bravejem, não falo de escolher na perspectiva da soterologia cristã protestante).
Quero que reflitamos um pouco sobre um principio simples de liberdade, mas que na maioria das vezes é ridicularizado, lançado na fogueira do orgulho e da soberba. Na maioria das vezes as pessoas são completamente incapazes de entender que para que haja relacionamento de respeito, amizade e tolerância não é preciso que elas pensem sempre a mesma coisa. Aliás, não haveria tolerância na igualdade. Precisamos aprender o respeito.
Por ser o que sou não preciso ridicularizar a fé mulçumana, católica, espírita, budista ou mesmo a escolha pela fé que acredita que não é. Claro que posso e devo (havendo liberdade para tal) apresentar respeitosamente o contraditório para qualquer escolha do outro, mas isso tem que acontecer de forma respeitosa, entendendo que o outro não deixa de ser “gente” quando não aceita minhas “ofertas de fé” ou de não fé.
O interessante é que parece inerente ao fanático ridicularizar os que não aceitam seus padrões de fé ou de não fé. Não é incomum ouvir relatos acerca de ateus que se acham a elite intelectual porque não são presos ao divino, ou de pentecostais que banalizam uma fé mais moderada, ou ainda de católicos que ficam indignados com os não devotos de Maria. Há também os protestantes históricos (nos quais estou) que muitas vezes “arrotam” (arrotamos) a “teologia do desprezo” para com os que não são iguais em nossa crença.
Quando isso acontece lançamos mão do que é mais asqueroso em nós, somos arrogantes, desequilibrados e vamos de encontro aquilo que está presente em todos os credos (com exceção ao satanismo), o amor ao outro. E o amor não é privilégio de cristãos, mulçumanos, budistas... Também não são os ateus incapazes de amar! Amar é resultado e combustível de viver!
Precisamos aprender a olhar o outro como igual apesar de todas as diferenças que possam existir entre nós. Isso é possível sim sem abrir mão de todas as nossas cargas ideológicas, credos, convicções... Respeitar as escolhas de um ateu não me torna um deles. Tolerar a fé budista, católica, espírita não me torna liberal teologicamente, ao contrário sinaliza para o fato de que estou aprendendo o amor que não espera trocas ou recompensas.
Minhas convicções de fé são conservadoras e radicalmente cristãs. Creio na criação do mundo exatamente como descrito em Gênesis, creio na queda do homem, no nascimento virginal de Jesus, em sua morte, ressurreição e em sua futura vinda. Não apenas creio, mas vivo por essa fé e por ela movo-me em direção aos que não creem como eu. Não abro mão dessa fé. Mas isso não me concede um direito de superioridade intelectual ou moral sobre ninguém. Um cara que crer que Deus não existe ou que não crer que Deus existe não é superior ao crédulo. É completamente insano e anti -intelectual colocar-se como superior porque consegue comer pimentão e eu não!
Por outro lado, tolerar não significa ser indiferente. Creio que o cristianismo é o ideal de vida para a humanidade, afirmo que o protestantismo da Reforma Protestante é o modelo mais próximo do padrão bíblico e que a Igreja Presbiteriana do Brasil prega fielmente (na maioria dos seus púlpitos) a Palavra do Deus Vivo e Verdadeiro! Por crer nisso com toda a convicção do meu coração eu prego aos católicos, espíritas, ateus... O diferente é que a NÃO ACEITAÇÃO do meu discurso não pode ser um “motivo” para que me afaste deles ou os tenha como inferiores a mim. A Bíblia me ensina que independente do credo todos os homens são criados por Deus e como criaturas dEle devem se respeitar. Como cristão sou responsável por ser assim. Preciso aprender diariamente que sou o que creio e se não o sou minha fé é falsa.
Sou corinthiano muitos dos meus amigos não tem essa felicidade; detesto cebola, tem gente que come aquilo “no seco”; não suporto forró enlatado, há quem delire; sou cristão, você não... Os homens são livres para querer e o são, para crer ou não crer (falo da liberdade de Estado e não no conceito de segundo a soterologia protestante – por favor não me levem para o calabouço). Escolher é inerente ao homem, respeitar as escolhas também deve ser!

Não gosto de Pimentão, mas, por favor, não me ridicularize!

Deus nos cuide!

Caco Pereira

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