A CARTA QUE NÃO QUERO ESCREVER

Hoje vou mudar um pouco meu estilo aqui no ortopraxia. Quero escrever uma suposta carta. Mas irei fazer isso como se estivesse em 2039. Vou dirigi-la ao meu Filho Luan. Gostaria muito que você se imaginasse fazendo o mesmo para seus filhos e que a medida que ler o texto, o Senhor Deus rasgue seu coração e mude sua postura cristã. Vamos lá:
Olá meu filho, saudades de você. Como andam as coisas? Meus netos e minha nora amada estão bem? Você tem cuidado deles como servo do Senhor?
Bem, hoje gostaria de lhe escrever pedindo perdão. Preciso que me perdoe pelos meus erros do passado. Não falo apenas como pai, mas como cristão. Nos tempos de minha juventude, quando você ainda era criança, vi uma porção de coisas “novas” entrando na Igreja de Cristo e fiquei quieto, não abri minha boca, permaneci como um cão mudo em face do perigo. Quando fiz isso, pequei contra Deus, contra a Igreja dEle e contra você que me tinha como exemplo.
Naquele tempo a Igreja sofria com tantas mazelas horríveis. Eram os falsos apóstolos, com os vendedores e caçadores de Deus, os malditos judaizantes que assolavam o povo do Senhor, cheios de promessas absurdas, os profeteiros e reveladores de plantão, os “espirituais” que pulavam falavam nas suas “línguas totalmente estranhas” - nada realmente novo -. Infelizmente arrastaram muitas pessoas. E eu? Onde eu estava? Ocupado demais, preocupado demais em anunciar a teoria ortodoxa, sem conclamar à ortopraxia evidenciadora de vida (Tg 1.19-27; 2.14-26). Estava tomado do orgulho de ser um cristão histórico. Tão assoberbado e soberbo, que não percebi como a história estava sendo cruel com a Igreja de Deus. Tornei-me um “cão sem voz” (Is 56.10). Não atentei para o fato de que um cristão sem fala e atos é sal insípido, é luz que não brilha!
A igreja tornou-se cada vez mais ensimesmada, egoísta e voltada para o entretenimento, para os shows e menos para a Escritura. Os crentes não estiveram preocupados em agir como cidadãos dos céus (Sl 15), mas como sócios de um clube. Eles pagavam suas “mensalidades” regularmente – ou não! - e exigiam seus direitos – as bênçãos! -. Se acaso não fossem atendidos nos termos, mudavam de lugar, afinal de contas, eles estavam “pagando” e novos “clubes” estavam sendo abertos quase que diariamente. Por isso podiam determinar a Deus como as coisas seriam.
E eu? Onde eu estava? Mudo? Não, eu até gritei, mas tive minha voz sufocada pelas vãs preocupações dessa vida, ou pelo egoísmo que também me conquistou. Ah! Meu filho perdoe esse seu velho pai por não ter sido o cristão que deveria ter sido, por não ser um líder capaz de morrer pela verdade do Evangelho. As leis foram ficando cada vez mais duras com os cristãos. Então era preciso calar para não perder a vida. E nós calamos! Engraçado, quando emudecemos esquecemos que Cristo certa vez disse que quem perder a vida por amor a Ele ganhá-la-ia (Mt 10.39)!
Eu vi a Igreja definhar, o amor esfriar... Vi pessoas que se diziam cristãs ficarem caladas diante de uma sociedade putrefata, miserável, sofrida. E sabe o que é pior meu filho? Eu também silenciei. Eu poderia gritar, eu deveria bradar ao mundo que Jesus Cristo muda o imutável aos olhos humanos. Ah! Eu calei-me e sou culpado! Ai de mim que não preguei o evangelho! (1 Co 9.16).
Quantos amigos e amigas vi se perderem pelos caminhos da vida sem que ouvissem de minha boca as doces palavras de vida. Quantos deles esperavam apenas algumas ações de amor, do autêntico amor cristão. Eu sou culpado meu filho! Preguei o amor e não o evidenciei. Fiquei apenas em palavras (1Jo 3.18).
Hoje, aos 60 anos, já cansado quero pedir meu filho que você me perdoe. Mas também quero que mantenha seu foco na Esperança. Cristo voltará! Ande com essa verdade hoje, ame esse dia e deseje-o. Viva essa certeza em todos os instantes de sua vida! Viva a vinda do Rei e seja um súdito dEle já! Ensine aos seus filhos e esposa a amarem o Senhor acima de todas as coisas e a vivenciarem esse amor em todo tempo. Vica com eles pra glória do Rei (1Co 10.31).
Fico por aqui, cheio de tristeza e com o coração pesado de dor. Clamo ao Senhor Deus que continue preservando os remanescentes fiéis e que tenha misericórdia de mim e de tantos outros cristãos que, assim como eu, não se revoltaram contra o pecado (At 17.1.-34) ao ponto de serem verdadeiros embaixadores de Cristo (2Co 5.18-21).
Um beijo meu amado filho!

Meus queridos, espero que jamais eu ou você tenhamos que escrever algo assim. Oro ao Senhor para nunca ter que carregar em meu coração a dor do sofrimento causado pela omissão. Quero poder honrar ao Senhor em todo tempo e lutar em defesa da fé, seja qual for a situação. Espero que você queira o mesmo e que o Espírito nos capacite a sermos homens do qual o mundo não é digno (Hb 11.38). Que isso seja para a Glória do Senhor Deus.
Que ao fim da nossa caminhada possamos dizer como o apóstolo Paulo: COMBATI O BOM COMBATE, TERMINEI A CARREIRA, GUARDEI A FÉ! (2Tm 4.7).

Um abraço afetuoso!
Pr. Ricardo "CACO" Pereira

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